com quantas mãos se faz um lookinho?
- aliciabgouveia12
- Mar 28, 2021
- 3 min read
por Alicia Gouveia
Você já parou para pensar em quantas mãos passaram pelas roupas que agora compõem o seu look? Mãos mesmo, físicas, e não as que distribuem inspiração, que também têm sua importância, mas são pauta para um outro capítulo. A dúvida é real: quantas mãos foram necessárias para que a brusinha da vez chegasse até nós pelo fantástico preço de R$29,90 (ou qualquer outra variação do tipo)? E, muito mais do que mãos, quantos talentos foram necessários, quantos conhecimentos foram requisitados e quantos anos de experiência e estudo estão depositados em cada costura da peça que você veste agora?
Levando em consideração a lógica capitalista que vivemos, onde ou se lucra, no mínimo,100% ou é melhor nem entrar pro jogo, aquela brusinha de R$29,90 custou para a marca cerca de R$14,95. Neste valor de custo está incluído, na maioria das vezes, os gastos fixos da empresa – tributos, aluguel, domínio do site, água, luz... –, e os gastos para a confecção da peça. Ou seja, mão de obra, tecido, linha, aviamentos, etiquetas, embalagens etc.
Isto dito, quantos desses quase 15 reais remuneram, de fato, a costureira responsável por materializar algo que, antes, só existia na cabeça de alguém ou num pedaço de papel? A reflexão pode ser dura e tocar na ferida – afinal, quem não ama uma bela promoção para garantir o lookinho da moda pelo menor preço possível? Acontece que em um mundo onde o dinheiro é o nosso principal ativo e manda no que deve ser feito e desfeito, precisamos pensar duas vezes antes de investir e comprar a ideia de uma marca. Pesquisadores de tendências já indicam que a nova era será o fim das fast fashion, uma vez que o consumidor está cada vez mais consciente e cobrando posicionamentos políticos e sociais das marcas. Recebo esta previsão com certo alívio, porém, como diria minha mãe, “o buraco é mais embaixo”.
A indústria da moda, apesar de todas as suas problemáticas, é a segunda que mais emprega, girando
uma engrenagem gigantesca da economia mundial. Essa informação seria linda e digna de muito orgulho se o seu complemento não fosse tão trágico: ela também ocupa o segundo lugar na lista de setores que mais exploram o trabalho escravo no mundo, como indica a pesquisa realizada em 2018 pelo The Global Slavery Index, da fundação Walk Free.
Para que a nova era chegue, como dizem os especialistas, é preciso que a consciência chegue antes. É preciso que os consumidores parem de compactuar com a lógica que tem regido o mundo há séculos (remuneração mínima X lucro máximo). Caso contrário, prepare-se para uma crise mundial jamais vista antes. Com o fim do ciclo das fast fashion, milhões de funcionários sairão de condições análogas à escravidão para o desemprego.
"E o que a gente pode fazer para reverter isso?" A situação parece caótica e complicada – e de fato é – mas a solução pode vir através do trabalho de formiguinha da consciência coletiva. Comece acreditando que o seu dinheiro faz, sim, a diferença e tente investir apenas em marcas que estão alinhadas com o seu propósito, ou com o que você acredita. "Mas como eu descubro isso?” Perguntando! Pergunte às marcas quem fez aquela peça que chegou até você, em quais condições aquele funcionário trabalha e qual a sua jornada de serviço. E pergunte a si mesmo! Exercite e estimule o seu pensamento crítico. Ao se deparar com uma peça ridiculamente barata, lembre-se: “se um produto não é vendido por um valor justo, alguém na cadeia de produção provavelmente está pagando por esse preço” – Story of Stuff

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