Conheça Henrique Sca, stylist de origem indígena que assinou o último desfile da marca Silvério no SPFW
- aliciabgouveia12
- Feb 20, 2024
- 3 min read
Updated: Apr 24, 2024
por Alicia Gouveia

O primeiro contato de Henrique Sca com a moda foi ainda na infância em Marília, sua cidade natal, no interior do estado de São Paulo. Através das costureiras do bairro, ele entendeu como as roupas que vestia eram feitas e passou a se perguntar se aquele seria um caminho a se seguir. Corta para junho de 2022, quando Henrique, de 27 anos, assina o styling do desfile da Silvério, sua grande estreia na São Paulo Fashion Week.
"Saí de Marília e me mudei para Jundiaí aos 12 anos. Foi lá que eu passei a conhecer as grandes revistas, mergulhar neste universo e entender que queria pertencer a ele. Quando terminei a escola, me matriculei na faculdade de moda e me mudei para São Paulo", diz ele em entrevista à Vogue.
De lá para cá, Henrique experimentou de tudo um pouco. Trabalhou no varejo, como stylist em um e-commerce de moda e em uma marca de sapatos, escreveu para jornal, cobriu eventos importantes, como a Casa de Criadores, e até fechou uns jobs na publicidade. Até que um curso em específico - o de Styling, na Universidade de São Paulo - lhe abriu portas maiores e seu desejo de criar imagens de moda, e não roupas, falou mais forte.

"O tema do meu projeto de conclusão de curso era a falta de afeto pela Amazônia", conta o stylist, descendente dos povos originários. Já adulto, Henrique descobriu em uma pesquisa pessoal e familiar suas origens indígenas do povo Pataxó. "Fiz um editorial com o Noah Álef [modelo índigena, também Pataxó], que hoje em dia está na Europa e estourou no mercado de moda. O trabalho ficou lindo e quem estava como convidado na banca era o Sam Tavares [stylist sênior da Vogue]. Nunca esqueço o que ele me perguntou. 'Você já trabalha com isso? O seu editorial deveria estar em uma revista'. Alguns meses depois, ele se tornou stylist da Vogue e me convidou para fazer produção de moda. Este foi o meu primeiro contato com o mercado editorial".
Encontro de propósitos
Henrique e Rafael Silvério, criador da marca que leva seu sobrenome e à frente do Projeto Sankofa, se conheceram trabalhando juntos para o cantor Renan Cavolik: enquanto ele assinava o styling, o estilista desenhou as peças. "O convite para fazer o desfile da Silvério no SPFW veio no começo do ano. Foi meu primeiro trabalho com a marca e meu primeiro desfile no evento, um marco importante para a minha trajetória. Para mim, o que o Rafael faz vai além da roupa. Ele comunica sentimentos, desejos e informações", afirma.
Inspirado pela natureza, crenças, religiões e pelo mistiscimo, Henrique diz que o trabalho apresentado na passarela da semana de moda paulistana foi resultado de um combo do que tanto ele quanto a marca tinham a dizer. "Nós dois acreditamos nas mesmas lutas e levantamos as mesmas bandeiras. Batemos o pé para ter um casting com muitos modelos indígenas e pretos. Queríamos trazer nosso povo de uma maneira bonita e fashion, como forma de resistência", conta o stylist, que explica porque todas as modelos indígenas usavam looks pretos: "Quis fazer algum tipo de protesto e mostrar que estamos em luto pelas coisas tenebrosas que vêm acontecendo".

Processo criativo
Pouco perfeccionista, mas muito entregue ao que se propõe a fazer, ele conta que seu processo de criação passa pelo o que está vivendo, construindo e sentindo: "Não busco a perfeição, mas gosto do que faço, então será muito bem feito e estruturado. O perfeito para mim não tem tanta graça. Posso me perder nessa busca, congelar e não entregar nada. Me interessa muito mais construir algo que eu seja capaz de realizar no momento com as ferramentas que tenho à disposição".
Apesar de usar seu trabalho para chamar atenção para causas importantes na sua vida, Sca não o resume a isso. "Ele vai além das minhas bandeiras", explica. "Mas quando eu sinto a necessidade de falar sobre elas, o utilizo como ferramenta".

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