Tatá Werneck coloca a doença sob as luzes
- aliciabgouveia12
- Apr 6, 2021
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Updated: Jun 7, 2021
esta reportagem foi feita em 2019 para a revista da SOGESP (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo)
por Alicia Gouveia
Há cerca de um mês, em entrevista à colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo, a atriz Tatá Werneck anunciou estar grávida do também ator Rafael Vitti. Ao mesmo tempo em que assumiu ter a maternidade como o grande sonho de sua vida, ela se disse surpresa, pois vinha se preparando para uma cirurgia de endometriose. Nem imaginava que poderia engravidar.
Também conhecida como a doença da mulher moderna, a endometriose é bem mais comum do que muita gente pensa, inclusive entre as famosas. A estrela Maria de Lourdes da Silveira Mäder, a Malu Mader, integra essa lista. Ela, que sempre sonhou em ter filhos, conta que só teve conhecimento da doença quando começou a investigar os motivos de sua dificuldade em engravidar, aos 25 anos. “Ser mãe era um desejo ardente em mim desde muito nova. Quando comecei a perceber que estava demorando mais do que o considerado normal, fui atrás de saber o que estava acontecendo. Foi aí que eu descobri. A partir de então, meu médico já me alertou que isso poderia ser o que estava atrasando o processo”, revela.
Malu ainda conta que ficou sabendo, simultaneamente à endometriose, da existência de um tumor benigno no fígado e, por conta disso, acabou deixando seu desejo em segundo plano: “Aquilo acabou virando o problema maior no momento. Precisei operar para retirá-lo e, apesar de ser um procedimento agressivo e violento, deu tudo certo. Depois disso, fiquei por um ano sem tentar engravidar, até por conta da cicatrização do meu abdômen”. Passado esse tempo, Malu iniciou um tratamento para a endometriose com injeções de hormônio que a impediam de menstruar. “Uma determinada época, decidi parar com o medicamento e voltei a tentar engravidar. Lembro que estava de mudança para Nova York, com meu marido, e já tinha em mente que se não acontecesse logo, iria procurar ajuda médica. Pouco tempo depois descobri que estava grávida e foi a melhor sensação do mundo. Eu desejava muitíssimo”, finalizou a atriz.
Cada vez mais prevalente no mundo, a endometriose tem entre seus sintomas cólicas menstruais intensas e dores abdominais fora do período menstrual e durante as relações sexuais, bem como ao urinar ou evacuar. Além disso, possui forte ligação com a infertilidade feminina, estando associada a 50% dos casos.

PREVALÊNCIA
Segundo Maurício Abrão, professor associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade de São Paulo (USP), coordenador do Serviço de Ginecologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo (BP), e responsável pelo setor de Endometriose do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, tal relação tem algumas causas prováveis: “Mulheres com essa condição, diversas vezes, têm aderência nas tubas uterinas, que dificultam o transporte do óvulo e do embrião. Ainda existe uma maior dificuldade dessas pacientes em ovular, assim como em implantar um ovo fecundado pela alteração na cavidade do útero. Se, mesmo com tudo isso, a gravidez acontece, ainda assim a chance de abortar é maior do que o normal”.
Um grande problema para o tratamento é a descoberta tardia, pontua o especialista. “É uma doença que começa precocemente, alguns meses após a primeira menstruação, e já se mostra presente por meio de cólicas incapacitantes na adolescência. Apesar disso, o diagnóstico, que pode ser feito por meio de ultrassom endovaginal especializado associado a um bom exame ginecológico, costuma demorar, ocorrendo em média entre os 25 anos e os 35 anos de idade. Essa demora é extremamente negativa, visto que é importante fator de prejuízo na qualidade de vida”, declara.
CAUSAS
A endometriose ginecológica é caracterizada pela presença do tecido que reveste o interior do útero, o endométrio, fora da cavidade uterina. Ou seja, em outras partes da pelve, como trompas, ovários, intestinos e bexiga.
A forma mais grave é chamada de endometriose profunda. Acontece quando as células do endométrio, que deveriam ser expelidas, se infiltram nos ligamentos e em outros órgãos com certa profundidade.
A despeito de comum, suas causas ainda não são bem estabelecidas. Segundo Abrão, existem diversas teorias que justificam a doença. Uma das hipóteses, a mais antiga, é que parte do sangue reflua através das trompas durante a menstruação e se deposite em outros órgãos. Outra possibilidade é que seja genética e esteja relacionada a possíveis deficiências do sistema imunológico. “Hoje em dia, sabe-se que mulheres que não têm essa doença também podem ter esse refluxo da menstruação. Portanto, a justificativa de que a endometriose seja o resultado de uma somatória de fatores é bem mais consistente. Contudo, todas essas condições dependem e variam de paciente para paciente”, afirma o especialista.
Ainda segundo Abrão, a endometriose é vista como uma afecção que reflete organicamente os agitados dias de hoje: “Há estudos que correlacionam essa condição ginecológica ao estresse. Além disso, por ter menos filhos e amamentar menos, as mulheres, hoje, menstruam cerca de dez vezes mais que há 100 anos”, explica
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